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Vale do Araguaia tem potencial para aumentar área plantada e atrair usinas de etanol de milho

FS Bioenergia irá construir usina de etanol de milho em Querência-MT

O Nordeste de Mato Grosso, que abrange a região do Vale do Araguaia e a microrregião do Médio Araguaia, é a terceira maior produtora de soja do Estado, caminhando para alcançar o segundo posto, atrás somente do Médio Norte. Porém, possui a menor relação entre as sete regiões do Mato Grosso, apenas 30%, na área ocupada com milho segunda safra em comparação à sua área de soja de primeira safra. Isso é menos da metade do que o Médio Norte, 66%, conforme dados do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária).

O Médio Norte é o maior produtor de milho do Estado, com previsão de colher mais de 14 milhões de toneladas nesta safra, de um montante previsto de 31 m/t no Mato Grosso. Essa produção tem atraído as usinas de etanol de milho para o Médio Norte, que movimentam outras cadeias produtivas e também geram emprego e crescimento nas cidades.

A região Nordeste, com histórico de período chuvoso menor, enfrenta dificuldades em utilizar boa parte das lavouras com milho na segunda safra, preferindo uma parcela com o plantio de pulses, como gergelim e feijão. Porém, com o desenvolvimento de novos maquinários e a chegada de variedades precoces, além da boa cotação atual do milho, o produtor começa a projetar um aumento de área já para esta segunda safra de 2020.

Em Querência-MT, maior produtor de grãos do Nordeste, a previsão é de aumento de 10% na área de milho nesta segunda safra, que já começou a ser semeada. Conforme informações do Sindicato Rural, a área deve sair de 200 para 220 mil hectares no município, o que representará por 62% da área de soja. “Acredito que em alguns anos, 100% da área estará ocupada na safrinha, sendo a maior parte com milho, porque hoje temos materiais precoces que produzem bem”, disse o presidente do Sindicato Rural, Osmar Frizzo.

Osmar Frizzo – presidente do Sindicato Rural de Querência-MT / Foto – Arquivo AGR

No ano de 2019 a FS Bioenergia anunciou que irá construir uma usina de etanol de milho em Querência, a primeira da região Nordeste. A unidade está em fase de liberação de licenciamentos. Sua capacidade será de produzir 500 milhões de litros de etanol por ano, consumindo 1,2 milhão de toneladas de milho, sendo necessária uma área de 200 mil hectares de milho para abastecer a usina, além de 10 mil hectares de eucalipto para uso no processo de produção.

“As informações que temos é que a instalação [da usina de etanol] vai iniciar entre o final deste ano e o início do ano que vem. Ela vai começar menor e depois aumentar. No início vai consumir a produção de 100 mil hectares de milho, chegando aos 200. Isso incentiva o produtor a plantar e investir ainda mais na cultura”, disse Osmar Frizzo.

Em entrevista para a AGRNotícias, o presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco, falou que atualmente o Mato Grosso tem seis usinas de etanol em operação, sendo quatro flex (cana e milho) e duas que utilizam apenas milho. “Em 2020 outras duas usinas que utilizarão apenas milho vão entrar em operação. Também existem outros sete projetos em processo de licenciamento, como é o caso de Querência, além de oito usinas em estudo”, falou Nolasco.

Conforme o presidente da Unem, a indústria vai atrás do milho e não o milho atrás da indústria. Porém, ele ressalta que é possível a instalação de usinas menores. No Médio Araguaia, depois de Querência, o segundo maior produtor de milho é Canarana, com uma área estimada para esta safra de 100 mil hectares, mas com grande potencial de crescimento, pois o município terá mais de 100 mil hectares de lavoura ociosos na segunda safra, que não serão ocupados nem por milho, nem por gergelim. E este cenário se repete na maciça maioria dos municípios da região.

As usinas de etanol de milho não trazem apenas divisas para o produtor, que tem mais uma opção de venda. Segundo Guilherme Nolasco, uma usina do tamanho da que será erguida em Querência, gerará 8.500 empregos diretos e indiretos. Além disso, ela fomenta outras cadeias produtivas, como a produção de carne por conta do DDG, um farelo proteico usado em confinamentos, que é extraído no processo de produção do etanol de milho. A cada tonelada de milho, são produzidos 333 kg de DDG. “Uma coisa vai puxando a outra e a tendência é o aumento dos confinamentos onde tem usina de etanol de milho”, ressalta Nolasco.

Guilherme Nolasco – presidente da União Nacional do Etanol de Milho / Foto – Assessoria Unem

Demanda

Na temporada 2019/20, a previsão é que o Brasil produza 35,5 bilhões de litros de etanol, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Desse montante, 1,7 bilhão de litros vem do processamento de milho. O programa do Governo Federal RenovaBio, pretende aumentar em 18 bilhões de litros o consumo anual de etanol no país num prazo de 10 anos, como boa parte desse aumento vindo da produção do etanol de milho.

Para produzir etanol é preciso matéria prima. O Mato Grosso e, em especial, a região Nordeste, possuem terras para produzir milho sem precisar desmatar. O ingresso de tecnologias tem possibilitado o incremento cada vez maior de áreas para o cultivo da segunda safra. “A região do Médio Araguaia tem potencial, tem muito potencial para usinas de etanol de milho, não tenha dúvidas disso”, disse o vice-governador do Estado, Otaviano Pivetta, quando esteve em Canarana neste mês de janeiro.

Por Rafael Govari – AGRNotícias; Foto de Capa – Assessoria Unem.

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