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Produtores elegem conectividade no campo como próximo desafio da agricultura

 

Você já imaginou o produtor rural receber na palma de sua mão, ou seja, em seu celular/smartphone, dados em tempo real de qual foi a produtividade em cada talhão de sua lavoura? Onde precisa colocar mais nutrientes para a próxima safra; Qual a quantidade que caiu de chuva naquela área; Qual a incidência de pragas; Qual foi a quantidade de combustível utilizada para plantar, passar defensivos e colher; Quais maquinários precisam de manutenção; Por fim, já imaginou um relatório automático detalhando o que você precisa comprar para manter a fazenda?

Essa realidade pode estar mais próxima do que se imagina. Ela é chamada hoje de internet das coisas (Do inglês – Internet of Things – IOT), um modo como os objetos físicos estão conectados e se comunicando entre si e com o usuário, através de sensores inteligentes e softwares que transmitem dados para uma rede. Como se fosse um grande sistema nervoso que possibilita a troca de informações entre dois ou mais pontos.

Parte disso já está presente no nosso dia-a-dia, como, por exemplo, o Uber. Mas, para que funcione, é preciso ter internet e de boa qualidade. Se nas cidades o acesso à internet ampla (3G, 4G) de qualidade ainda enfrenta obstáculos, no meio rural o desafio é ainda maior, principalmente no Brasil, pelas suas dimensões e regiões ainda pouco povoadas, onde a sede das cidades chegam a ficar centenas de quilômetros de algumas propriedades.

Investimentos

A internet 5G, de altíssima velocidade, já é realidade em alguns países do mundo. Ela é primordial para que a internet das coisas funcione. No Brasil a licitação para implementação do sistema está previsto para 2020. 

Paralelo a isso, o deputado por Mato Grosso José Medeiros (PODE), apresentou a PL 4061/2019, em tramitação na Câmara dos Deputados, com o objetivo de mudar essa realidade e conectar os produtores rurais, com o objetivo de tornar o agronegócio ainda mais moderno e competitivo.

Em termos práticos, a proposta permite que os recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST), cerca de R$ 20 bilhões, atualmente vinculado apenas ao serviço de telefonia fixa, cada vez menos utilizado e obsoleto no Brasil, sejam utilizados para financiar, de forma geral, políticas governamentais de telecomunicações, ampliando o acesso à Internet entre as famílias de baixa renda e no campo.

Propriedades em MT

Na região do Médio Araguaia, por exemplo, a empresa HZ Informática Telecom, investiu pesado para atender a demanda da população tanto na cidade quanto no interior e hoje presta serviço para 513 propriedades rurais com internet nos municípios de Canarana-MT e Gaúcha do Norte-MT. Somente em Canarana, onde a empresa possui 323 clientes no campo, neste ano foram 95 novas adesões. O principal motivo pelo expressivo aumento de adesões neste ano de 2019 foi a exigência do Governo do Estado em se emitir nota fiscal na propriedade para o transporte de produtos. Na cidade a internet oferecida pela empresa é a fibra óptica e no interior é a via rádio.

Internet via rádio instalada no interior pela empresa HZ Informática Telecom; Foto – HZ

Um estudo do IMEA (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) de abril de 2018, apontou que a questão da “Conectividade” foi classificada pelos produtores rurais como um dos problemas mais Graves, Urgentes e Abrangentes do Estado. Daqueles que responderam à pergunta, 41% afirmaram ter internet a “Rádio”, 21% apenas “Internet Móvel”, 19% “Banda Larga”, 8% internet via “Satélite” e um percentual de 12% afirmou não ter nenhum tipo de internet na fazenda. Porém, conforme a pesquisa, 86% dos entrevistados disseram que não possuem internet que cubra todos os talhões da propriedade, ou seja, somente na sede.

Os produtores

O produtor rural César Giacomolli, cultiva grãos na fazenda Vale da Serra, que fica no município de Água Boa-MT. Ele disse em entrevista para a AGRNotícias, que colocou internet via rádio na propriedade há cerca de um ano, porém ela “pega” apenas na sede. “Aqui em Água Boa, num raio de 50 km, acredito que a maioria das propriedades hoje tem internet, o que facilita a comunicação e ajuda a resolver muitas coisas. Por exemplo, se você precisa de uma peça, tira foto e manda para o fornecedor e em poucos minutos ele retorna com a cotação. Antes tinha que ir até a cidade. Claro que a gente gostaria que pegasse em toda a área da propriedade, mas já tem economizado tempo e dinheiro”.

O produtor rural Pércio Cancian planta no interior de Canarana. “Hoje já tem plantadeiras sem trator guiadas por informação via satélite, trator sem operador… Em termos mais práticos, produtores já conseguem fotos via satélite em tempo real de sua lavoura, com o auxílio de sensores, que mostra se a cultura está bem nutrida, se a quantidade de nitrogênio e potássio está normal, se está sentindo stress hídrico ou não, enfim, consegue monitorar isso do começo ao fim. Essa inteligência é acumulada ano após ano num banco de dados. Eu mesmo trabalhei com essa tecnologia no ano passado. Isso é um caminho sem volta, mas para tudo isso a internet é fundamental”.

Cancian citou outro exemplo de uma fazenda no município, que o gerente consegue, através de um aplicativo, saber quais máquinas estão trabalhando e quais delas precisam de manutenção. Os dados são enviados via rádio das máquinas até a sede da fazenda e da sede da fazenda via internet até o celular do gerente para onde ele estiver no mundo. “Tudo que está no computador do trator, é transmitido para o aplicativo. Então o agricultor tem sua propriedade na palma da mão”, evidenciou Percio.

Por AGRNotícias; Foto Capa – Delivery Farm.

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