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Mortandade de plantas e pragas no gergelim preocupam produtores

 

Em meio a safra recorde de gergelim no Mato Grosso, com expectativa de produção de 127,8 mil toneladas (Conab), sendo a cultura que mais cresceu nos últimos anos, principalmente no Médio Araguaia, o cenário pode parecer otimista sob todos os ângulos. Contudo, na safra 19/20, já há relatos quase unânimes de produtores evidenciando problemas na cultura, da forte incidência de pragas, até a mortandade de plantas.

Lavoura de Gergelim com mortandade das plantas.

O produtor rural canaranense Alex Wish, por exemplo, evidenciou que em 60 hectares dos 225 que cultiva do cereal na variedade Anahi, estima uma diminuição de produção de quase 550 quilos/ha, devido a uma mortandade nas plantas. O produtor esperava colher 800 kg/ha na área, mas desde os primeiros 15 dias após a germinação do gergelim, já registrou alto índice de plantas morrendo.

Wish, que também é presidente do Sindicato Rural de Canarana-MT, disse que aliada a mortandade de plantas, sendo fator registrado por vários produtores, também há a incidência de pragas que está alta na safra. “Praticamente todos os produtores falam do problema em um ou outro talhão. Inclusive a nível de Estado! Essa mortandade, por exemplo, tivemos relato dela na região da BR-163, no Xingu; Pra todo lado, bem como pragas”, diz Alex.

Algumas lavouras da região sofreram com a incidência de ataque de lagartas.

O produtor Murilo Ramos, de Canarana, por exemplo, também relatou dificuldades na cultura, não na mortandade, mas na incidência de pragas. “O maior problema na atual safra na cultura está no campo, em conseguir fazer o gergelim produzir. Ano passado o gergelim estava mais fraco vegetativo e tudo leva a crer que este ano será bem pior”, relata o produtor, que salienta que em sua propriedade, as plantas de gergelim não atingiram a altura esperada. “Tivemos problemas com competição com ervas daninhas, que tivemos uma dificuldade grande para controlar. Aliás, não conseguimos controlar em várias partes. Erva de santa luzia, amargoso. Deu muito desconto, de até 11%. A esperança é que melhore um pouco agora pra frente”, explica.

Possíveis causas

Nas áreas em que houve a mortandade de plantas, amostras do solo e das plantas foram coletadas e enviadas para análise e ainda aguardam resultado. A AGRNotícias entrevistou o engenheiro agrônomo Alex Luviseto, que é gerente do departamento técnico e comercial da Agrícola Ferrari, que comercializa gergelim. Conforme Alex, num modo geral, a planta desta ano do gergelim está inferior que a safra passada. 

Ele elenca como motivos o plantio mais atrasado, excesso de chuvas, aliado com a monocultura. Em alguns casos, o produtor tem plantado soja e depois gergelim na mesma área há vários anos. “Isso tem provocado doenças no solo, como fusarium, macrophomina, que provocam um complexo de podridões radiculares e mata a planta”, disse Luviseto.

O gergelim, aquém do potencial, sendo colhido.

Se para as doenças foliares a solução são os fungicidas, para as doenças de solo, a opção é rotação de culturas junto com variedades com resistência genética. “O produtor vai ter que fazer rotação e evitar soja e gergelim na mesma área todo o ano, talvez intercalar com milho, milho pipoca ou coberturas de solo”, fala Luviseto.

Sementes certificadas

Para o presidente do Sindicato, Alex Wisch, o ideal para a cultura seria a existência de materiais mais resistentes. “Teve gente relatando doença, outros relataram ataques severos de pragas (percevejos, lagarta). Isso, claro, já era esperado. Conforme você aumenta a área, mais você espalha a cultura, mais praga você consegue juntar”.

Conforme Alex, existem ainda outros problemas, como as sementes certificadas. “Passaram a exigir [Mapa] que a gente plante somente material certificado. {…} Tanto que alguns produtores já receberam a visita do Indea, que notificou. Essa notificação é o que: você tem que registrar/declarar a área que você plantou de gergelim. Se tem Nota Fiscal e quer salvar semente, tem que registrar um pedaço da sua área pra fazer um campo, para você poder salvar a semente”.

O  sindicalista explica que, sem salvar a semente para o plantio no próximo ciclo, o produtor não poderia, na atual situação, plantar o gergelim. “A menos que ele compre semente certificada, que não tem pra todo mundo”, evidencia.

Presidente do Sindicato Rural de Canarana – Alex Wisch.

Cenário Futuro

Num balanço do cenário para o cereal, Alex Wish diz que avalia que a cultura não é mais tão confiável. “Não podemos ter o gergelim como carro chefe. Estávamos dando mais atenção pra ele que pra soja. mas hoje já não dá pra fazer isso, infelizmente. 

O agricultor Murilo Ramos relata que na na sua visão, o produtor precisa estar atento ao gergelim, mas também à outras culturas já estabelecidas: “A conclusão que eu chego é que o gergelim é uma ótima opção para fazer a safrinha. Mas não se deve deixar de plantar o milho”, finaliza. 

Apesar dos problemas enfrentados pelos produtores, o engenheiro agrônomo Alex Luviseto não acredita em redução da área de gergelim na região de Canarana, no Médio Araguaia. “Talvez o produtor que já planta, vai diminuir um pouco, mas outros produtores que não plantam vão entrar na cultura. Então acredito na manutenção da área aí na região”.

Alex Wish, salienta que o caminho, para evitar problemas maiores nas próximas safras seria investimento em pesquisa. “Temos que investir mais. Mas investir aqui na região. Se a gente quer continuar com o gergelim, precisamos trazer a pesquisa para região. E isso não é barato e não é rápido”, concluiu.

Por Lavousier Machry e Rafael Govari, para a AGRNotícias.

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